Entre 1942 e 1945, o Brasil foi integrante da aliança que combateu o Eixo. Provocado pelos ataques alemães em pleno litoral brasileiro, o país decidiu ir à guerra contra Hitler. Este post reúne reportagens de revistas brasileiras sobre os fatos mais importantes da guerra para o país.
Agosto de 1942: A declaração
Carnificina no mar do Nordeste leva o país a declarar
guerra contra o Eixo – Um único submarino alemão
afunda cinco embarcações e vitima quase 600 pessoas -
Ataques realizaram-se em curtíssimo intervalo de tempo
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Retaliação popular: um restaurante de comida alemã é depredado no Rio de Janeiro (1942)
Enquanto o sol de 15 de agosto de 1942 começava a mergulhar no oceano Atlântico, o navio Baependy, que deixara Salvador com destino a Recife, aproximava-se do farol do rio Real, perto de Maceió. Os 233 passageiros, a maioria deles militares do Exército, já haviam jantado. Ao lado dos 73 homens da tripulação, os viajantes celebravam naquele momento o aniversário do imediato Antônio Diogo de Queiroz. Rá. Tim. Bum! Repentinamente, um estampido abala a embarcação. O relógio apontava exatamente 19h12 quando um torpedo lançado por um submarino alemão U-507 atingiu o Baependy. Dois minutos depois, com outro torpedo no casco, o barco foi a pique. 215 passageiros e 55 tripulantes mortos.
Voraz, o U-507 não se contentaria com o notável estrago. Algumas horas depois, a embarcação tedesca se aproximaria do Araraquara, que também saíra de Salvador em direção ao Norte do país. Às 21h03, lançou dois torpedos que afundaram o mercante de 4.871 toneladas em cinco minutos. Das 142 pessoas a bordo, 131 perderam a vida. Sete horas depois do segundo ataque, o U-507, que ainda perambulava pela região, assaltou o Aníbal Benévolo. Às 4 horas da manhã do dia 16, dois torpedos – um na popa, outro na casa de máquinas – meteram no fundo o pequeno navio de 1.905 toneladas. Todos os 83 passageiros, a maioria deles recolhidos às suas cabines, morreram; de 71 tripulantes, só quatro sobreviveram.
Voraz, o U-507 não se contentaria com o notável estrago. Algumas horas depois, a embarcação tedesca se aproximaria do Araraquara, que também saíra de Salvador em direção ao Norte do país. Às 21h03, lançou dois torpedos que afundaram o mercante de 4.871 toneladas em cinco minutos. Das 142 pessoas a bordo, 131 perderam a vida. Sete horas depois do segundo ataque, o U-507, que ainda perambulava pela região, assaltou o Aníbal Benévolo. Às 4 horas da manhã do dia 16, dois torpedos – um na popa, outro na casa de máquinas – meteram no fundo o pequeno navio de 1.905 toneladas. Todos os 83 passageiros, a maioria deles recolhidos às suas cabines, morreram; de 71 tripulantes, só quatro sobreviveram.
Em menos de oito horas, o U-507, brinquedo assassino de Adolf Hitler, afundara três embarcações brasileiras e matara 541 homens. O país ainda se comovia com a tragédia causada pelos pérfidos ataques quando o submarino voltou à carga. No dia 17, próximo à cidade de Vitória, o Itagiba foi atingido às 10h45. O Arará, que se dirigia de Salvador para Santos, e parou a fim de socorrer o colega, acabou tornando-se a quinta vítima dos petardos tedescos. Os 36 mortos do Itagiba e os 20 do Arará fizeram a conta das baixas brasileiras rasparem nas seis centenas. Ficava difícil esconder o desejo de revanche.
Estado de beligerância - Antes de julho de 1942, 13 navios brasileiros já haviam sido afundados na batalha que as embarcações germânicas travavam contra suas correlatas brasileiras desde que o presidente Getúlio Vargas cortara relações diplomáticas com os protetorados de Hitler, Benito Mussolini e Hiroíto – decisão anunciada em 28 de janeiro de 1942. No total, os danos tinham causado a morte de cerca de cem tripulantes – apenas sete passageiros pereceram. Getúlio Vargas, considerando as ocorrências casualidades inerentes ao contexto internacional, preferira não tomar medidas mais drásticas. |
Apesar de oficialmente neutro na refrega, o Brasil já se bandeara para o lado dos Aliados desde 1941, quando o chefe da República abriu espaço para bases aéreas e navais no Nordeste brasileiro. Em dezembro, Natal recebia uma parte do esquadrão naval VP-52; além disso, a 3º Força-Tarefa americana passou a ser lotada no Brasil, contando com uma esquadra equipada para atacar submarinos e navios mercantes rompedores de bloqueio do Eixo, que tentavam trocar mercadorias com o Japão.
A postura passiva, contudo, já não era suficiente para acalmar a traumatizada opinião pública e manter a soberania do país. Getúlio Vargas não teve escolha senão reconhecer o conflito entre o Brasil e as potências do Eixo. Em resposta aos apelos da sociedade, finalmente o Brasil anunciou, em 22 de agosto de 1942, o estado de beligerância – que, porém, duraria pouco. Em 31 de agosto de 1942, com a declaração do estado de guerra, o Brasil ingressava na mais internacional das batalhas da História.
No teatro de operações: soldados brasileiros combatendo em trincheira, no ‘front’ italiano
Julho de 1944: O embarque
Força Expedicionária Brasileira embarca para a Itália
- Primeiro batalhão no ‘front’ conta com 5.000 homens -
Cérebro do corpo militar nacional é general Mascarenhas
de Moraes, que também já está na área do Mediterrâneo
- Primeiro batalhão no ‘front’ conta com 5.000 homens -
Cérebro do corpo militar nacional é general Mascarenhas
de Moraes, que também já está na área do Mediterrâneo
Os mais céticos diziam que o Brasil só iria à guerra quando uma cobra fumasse. Pois tudo indica que, em algum lugar do país, um simpático ofídio puxou ao menos um cigarrinho de palha. No início de julho de 1944, após vários meses de expectativa, os primeiros soldados brasileiros seguiram rumo à Itália para juntar-se ao time Aliado que combatia as potências do Eixo. Nos próximos meses, deverão ser enviados cerca de 25.000 homens da Força Expedicionária Brasileira, a FEB, à Velha Bota.
O embarque do 1º Escalão verde-amarelo, sob o comando do general Zenóbio da Costa, no navio norte-americano General Mann encerra uma longa espera dos brasileiros para finalmente engajarem-se na batalha contra Itália, Alemanha e Japão. Quando, em dezembro de 1942, Getúlio Vargas anunciou que o Brasil não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos para os países aliados e à simples expedição de contingentes simbólicos ao front, muitos duvidaram.
O primeiro passo oficial para a concretização dos planos do presidente aconteceu em 9 de agosto de 1943. Pela Portaria Ministerial 4.744, publicada em boletim reservado de 13 do mesmo mês, foi estruturada a FEB, constituída pela 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE) e por órgãos não-divisionários.
A 1ª DIE, comandada por um general-de-divisão, deveria compreender: um quartel-general constituído de estado-maior geral, estado-maior especial e tropa especial; uma infantaria divisionária comandada por um general-de-brigada e composta de três regimentos de infantaria; uma artilharia divisionária comandada por um general-de-brigada e composta de quatro grupos de artilharia (três de calibre 105 e um de calibre 155); uma esquadrilha de aviação destinada à ligação e à observação; um batalhão de engenharia; um batalhão de saúde, um esquadrão de reconhecimento, e uma companhia de transmissão – na verdade, de comunicações. A tropa especial, além de um próprio comando, deveria incluir o comando do quartel-general, um destacamento de saúde, uma companhia do quartel-general, uma companhia de manutenção, uma companhia de intendência, um pelotão de sepultamento, um pelotão de polícia e uma banda de música.
Ainda em agosto, o general João Batista Mascarenhas de Moraes, comandante da 2ª Região Militar, foi convidado pelo ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra, para chefiar uma das divisões da FEB. Em seguida, o ministro partiu para os Estados Unidos carregando uma carta de Vargas ao presidente Franklin Roosevelt, em que Getúlio manisfestava o desejo do Brasil de participar das batalhas ativamente.
Material precário - Na fase de formação e estruturação da FEB, diversos oficiais foram despachados à terra do Tio Sam para participar de estágios nas bases militares estadunidenses. Desse modo, puderam se familiarizar com os procedimentos de combate dos americanos, que substituiriam os métodos franceses, historicamente ensinados nas escolas militares nacionais. Lá, a tropa brasileiro se reeducaria para reduzir o emprego das marchas a pé e a utilização de cavalos, trocando-os por deslocamentos motorizados, rápidos e audazes. |
Além de lidar com a dificuldade de adaptação dos soldados à nova doutrina, o general Mascarenhas de Moraes teve de vencer diversos obstáculos para tirar a FEB do papel. Um deles dizia respeito à seleção do contingente da tropa, sem critérios físicos ou intelectuais. O material disponível aos expedicionários também era precário. E, como se não bastasse, figurões do governo, simpáticos aos países do Eixo, trabalhavam contra a formação do agrupamento verde-amarelo.
No final de 1943, porém, decidiu-se que o Brasil mandaria um corpo militar para o teatro de operações do Mediterrâneo. Chefiando a recém-criada Comissão Militar Brasileira, na qual oficiais norte-americanos também tomaram parte, Mascarenhas de Moraes viajou à Itália e à África para observar os combates na região; antes de retornar, foi oficialmente nomeado chefe da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária.
Estava quase tudo pronto. Em 15 de maio de 1944, com a instalação do Estado-Maior Especial, que planejaria e executaria o embarque da 1ª DIE, ficou claro que não haveria mais volta. Na madrugada de 30 de junho para 1º de julho, finalmente, a promessa de Getúlio Vargas se cumpriu. O general Mascarenhas de Moraes e alguns oficiais de seu Estado-Maior embarcaram ao lado dos homens do 1º Escalão, que totalizava 5.075 homens – divididos entre um regimento de infantaria, um grupo de artilharia, uma companhia de engenharia e indivíduos ligados aos setores de manutenção, reconhecimento, saúde, comunicações, polícia, justiça, Banco do Brasil e correio. Todos os militares ostentam no ombro o brasão da Força Expedicionária Brasileira, cuja heráldica traz uma cobra, logo abaixo da inscrição “Brasil”. O ofídio em questão, é claro, está fumando.
Outubro de 1944: Os pilotos
1º Grupo de Caça da FAB desembarca na Itália para
participar do teatro de operações – Preparação para o
combate incluiu treinamento nos Estados Unidos e no
Panamá – Brasileiros ficam subordinados a americanos
participar do teatro de operações – Preparação para o
combate incluiu treinamento nos Estados Unidos e no
Panamá – Brasileiros ficam subordinados a americanos
Aprovados com louvor: caças com pilotos brasileiros durante fase de treinamento nos EUA
O grito que ecoava pela Base Aérea de Suffolk, em Long Island, Estados Unidos, intrigava os locais. Era em português, confabulavam. Mais do que isso, não sabiam. Realmente, era difícil para os homens do 1º Grupo de Caça da Força Aérea Brasileira, que ali travavam conhecimento com o sensacional Republic P-47-Thunderbolt, explicar aos americanos o significado da expressão. Bem mais difícil do que pilotar o mais moderno avião de caça da Força Aérea dos Estados Unidos da América – motivo pelo qual os brasileiros, em junho de 1944, estagiavam no estrangeiro. Ao final do curso, que completaram com louvor, pilotos e pessoal de apoio estavam aptos a entrar em ação. Na colação, em uníssono, berraram uma derradeira vez o enigmático estribilho: “Senta a pua!”
Agora, os aviadores brasileiros poderão realmente sentar a dita cuja nos inimigos do Eixo, em pleno céu mediterrâneo. No dia 6 de outubro de 1944, o 1º Grupo de Aviação de Caça desembarcou no Porto de Livorno, na Itália, duas semanas após deixar o porto de Norfolk, na Virgínia. Subordinados operacionalmente à 12ª Força Aerotática da Aeronáutica estadunidense, os verde-amarelos esperam ter oportunidades de colocar em prática no Teatro de Operações do Mediterrâneo o que aprenderam durante meses e meses de treinamentos e missões independentes.
Corajosa ave - Convivendo na Base de Aguadulce, a esquadra constituiu-se em uma unidade tática, ganhando o entrosamento e o espírito de companheirismo fundamentais para o sucesso de um agrupamento do tipo. Os brasileiros destacaram-se tanto nas manobras que, em abril, a unidade tática passou a operar de forma independente, tomando parte do complexo Sistema de Defesa Aérea da Zona do Canal do Panamá. Daí, partiram para a Base Aérea de Suffolk, onde completariam o treinamento.
Novembro de 1944: Monte Castelo
Pracinhas tomam Monte Castelo na quarta tentativa -
Conquista é estratégica para seqüência da campanha
aliada pelos Apeninos – Derrotar os alemães tornara-se
questão de honra para Força Expedicionária Brasileira
Conquista é estratégica para seqüência da campanha
aliada pelos Apeninos – Derrotar os alemães tornara-se
questão de honra para Força Expedicionária Brasileira
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Posições vulneráveis: aos brasileiros foram confiadas missões de altíssimo risco na Itália
No raiar de novembro de 1944, a 1ª Divisão Expedicionária do Exército (DIE) desviou-se da frente do rio Serchio, onde vinha combatendo havia dois meses, para a frente do rio Reno, na cordilheira apenina. O novo QG Avançado do General Mascarenhas de Moraes, em Porreta-Terme, era cercado por montanhas subjugadas pelos alemães, em um raio de 15 quilômetros. As posições privilegiadas dos inimigos submetiam os brasileiros a uma vigilância diuturna, dificultando qualquer movimentação. Para piorar, o inverno prometia ser rigoroso. Além do frio tiritante, as chuvas transformaram as estradas, açoitadas pelos aviões aliados, em verdadeiros mares de lama.
O General Mark Clark, comandante das Forças Aliadas na Itália, pretendia seguir sua marcha com o 4º Corpo de Exército rumo a Bolonha antes que os primeiros flocos de neve começassem a cair. Entretanto, não poderia fazê-lo sem primeiro dominar o cume que, dentre todos os ocupados pelos tedescos, se destacava por sua localização estratégica: o Monte Castelo. Coube, então, aos brasileiros a responsabilidade de brigar pelo setor quiçá mais ingrato de toda a frente apenina. Havia só um problema: a 1ª DIE era uma tropa ainda verde para um combate daquela magnitude. Mas como Clark desejava conquistar Bolonha antes do Natal, o jeito era amadurecer tentando.
Assim, em 24 de novembro, o Esquadrão de Reconhecimento e o 3º Batalhão do 6º Regimento de Infantaria da 1ª DIE juntavam-se à Força-Tarefa 45 dos Estados Unidos para a primeira investida por Monte Castelo. No segundo dia de ataques, tudo indicava que a operação seria exitosa: soldados americanos chegaram até a alcançar a cúspide do Castelo, depois de tomarem o vizinho Monte Belvedere. Contudo, em uma contra-ofensiva poderosa, os homens da 232ª Divisão de Infantaria germânica, responsável pela defesa de Castelo e do Monte della Torracia, recuperaram os pontos perdidos, obrigando pracinhas e ianques a abandonar as posições já conquistadas – com exceção do Monte Belvedere.
O segundo ataque a Monte Castelo, em 29 de novembro, seria quase em sua totalidade obra da 1ª DIE – com três de seus batalhões – contando apenas com o suporte de três pelotões de tanques americanos. Todavia, um imprevisto ocorrido na véspera da investida atrapalharia os planos: na noite do dia 28, os alemães recuperaram o Belvedere, defenestrando os estadunidenses da montanha e deixando descoberto o flanco esquerdo da tropa agressora. O comando da DIE chegou a pensar em adiar a hostilidade, mas, como as tropas já estivessem em posição de ataque, a estratégia foi mantida. Às 7 horas, uma nova tentativa seria efetuada.
As condições do tempo, porém, eram catastróficas para a ofensiva: chuva e céu encoberto impediam o auxílio da força aérea, e a lama praticamente inviabilizava a participação dos tanques. O grupamento do general Zenóbio da Costa até teve um bom início, mas o contra-ataque tedesco foi violento. Os soldados alemães dos 1.043º, 1.044º e 1.045º Regimentos de Infantaria barraram os avanços dos pracinhas. No fim da tarde, os dois batalhões brasileiros voltaram à estaca zero.
Ofensiva infrutífera - Em 5 de dezembro, o general Mascarenhas recebe uma ordem do 4º Corpo: “Cabe à DIE capturar e manter a crista do Monte della Torracia – Monte Belvedere.” Ou seja, depois de duas tentativas frustradas, Monte Castelo ainda era o objetivo principal da próxima ofensiva brasileira, marcada pelo comandante para dali exatamente uma semana. Mas 12 de dezembro de 1944 acabaria sendo, desafortunadamente, o dia mais aziago da Força Expedicionária Brasileira no Velho Mundo.
Com as mesmas condições meteorológicas da investida anterior, o 2º e o 3º batalhões do 1º Regimento de Infantaria fizeram, inicialmente, milagres. No flanco sinistro, os pracinhas subjugaram Zolfo, a somente 200 metros do cume; ao centro, alcançaram Abetaia, ante-sala do Monte Castelo. Entretanto, enfrentando pesada artilharia alemã, mais de 20 brasileiros foram ali abatidos. Mais uma vez, a ofensiva fora infrutífera, e, pior, causara baixas de 150 homens. A lição serviu para reforçar a convicção de Mascarenhas de que Monte Castelo só seria tomada dos alemães se toda a divisão fosse empregada no ataque – e não apenas alguns batalhões, como vinha ordenando o 5º Exército.
Como o inverno chegasse antecipadamente, cobrindo de neve toda a frente italiana, o general Clark voltou atrás na determinação de chegar a Bolonha antes do Natal. Os pracinhas, assim, entravam em recesso: um compasso de espera de dois meses e dez dias, tenso, tedioso e, principalmente, frigidíssimo. O gelo só se quebrou em 19 de fevereiro de 1945, quando o comando do 5º Exército determinou o início da nova ofensiva que colocaria as tropas aliadas – incluindo a 1ª DIE – para além do vale do Pó, até as fronteiras da França.
Pelo plano americano – batizado de Encore, ou “bis” -, novamente os pracinhas teriam como missão expulsar os alemães do Monte Castelo. Desta vez, porém, a tática de força total contra os tedescos, apregoada por Mascarenhas, foi aceita pelos caciques do 4º Corpo de Exército. E, assim, em 20 de fevereiro as tropas da Força Expedicionária Brasileira apresentaram-se em posição de combate, com seus três regimentos prontos para partir rumo a Castelo. À esquerda do grupamento verde-amarelo, caminharia a 10ª Divisão de Montanha estadunidense, famigerada tropa de elite, que tinha como responsabilidade tomar o Monte della Torracia e garantir, dessa forma, a proteção do flanco mais vulnerável do setor.
Vulcão em atividade - Como previsto, o ataque começou às 6 horas da manhã. O Batalhão Uzeda seguiu pela direita, o Batalhão Franklin na direção frontal do Monte e o Batalhão Sizeno Sarmento aguardava, nas posições privilegiadas que alcançara durante a noite, o momento de juntar-se aos outros dois batalhões. Pelo plano Encore, os brasileiros deveriam chegar ao topo do Monte Castelo às 18 horas, no máximo – uma hora depois do Monte della Torracia ser conquistado pela 10ª Divisão de Montanha, evento programado para as 17 horas. O 4º Corpo estava certo de que o Castelo não seria tomado antes que Della Torracia também o fosse. |
Entretanto, às 17h30, quando os primeiros soldados do Batalhão Franklin do 1º Regimento pisaram no cume do Monte Castelo, os ianques ainda não haviam dobrado a resistência alemã. Só o fariam noite adentro, quando os pracinhas há muito já haviam completado sua missão, e começavam a tomar, no vértice do Castelo, as trincheiras e casamatas recém-abandonadas pelos tedescos.
Para finalmente alcançar a esperada vitória, os três batalhões brasileiros coordenaram-se à perfeição; deve-se também creditar uma grande parcela do sucesso da investida à Artilharia Divisionária. Comandada pelo general Cordeiro de Farias, fez do cume do Monte Castelo, entre as 16h e 17h do dia 22, um verdadeiro vulcão em atividade, com bombardeios precisos que atarantaram os alemães.
Para o Coronel Manoel Thomaz Castello Branco, oficial de comunicações do 1º Regimento de Infantaria da Força Expedicionária Brasileira, a tomada de Monte Castelo foi mais do que só uma manobra militar bem-sucedida. “Com a conquista de Monte Castelo, esse sedento feito, a FEB saldou um de seus mais sérios compromissos na Itália, pelos aspectos morais que encerrava. O Monte Castelo já não era mais um simples objetivo a conquistar, mas um desafio a enfrentar e uma vingança a executar, cujo desfecho ou seria a consagração apoteótica ou a ruína acabrunhadora.” Orgulhosamente, ficamos com a primeira opção.
Abril de 1945: Montese
Pracinhas travam em Montese batalha mais sangrenta do
país desde a Guerra do Paraguai – Força total brasileira
expele tropas alemãs da cidade italiana e permite uma
passagem tranqüila dos Aliados rumo ao vale do rio Pó
país desde a Guerra do Paraguai – Força total brasileira
expele tropas alemãs da cidade italiana e permite uma
passagem tranqüila dos Aliados rumo ao vale do rio Pó
Ímpeto descomunal: tropa da FEB avança pela rua durante a violenta conquista de Montese
Excepcionalmente neste ano de 1945, ao contrário do que versejam as canções napolitanas, o mês de abril, que inaugura a temporada do amor e da primavera na Itália, revestiu-se de aventuras pouco românticas na Velha Bota. Obstinados integrantes do 5º Exército americano e do 8º Exército britânico colocaram-se em marcha para, de uma vez por todas, escorraçar os alemães do Norte da península. Nessa violenta dança, também os pracinhas tomaram parte. Ligada ao 4º Corpo, a Força Expedicionária Brasileira foi encarregada, por sugestão do próprio general Mascarenhas de Moraes, de derrotar as tropas alemãs que ocupavam a região de Montese – obstáculo para a passagem dos aliados rumo ao vale do rio Pó.
A ação envolveu, pela primeira e única vez, as guarnições da artilharia, os três regimentos de infantaria e o esquadrão de reconhecimento verde-amarelos. O 3º Batalhão do 11º Regimento de Infantaria, que avançaria rumo a Serreto-Paravento-Montelo, estava no centro da formação ofensiva, sendo sua peça principal. À direita, alinhava-se o 2º Batalhão, e à esquerda, o 1º. Assim, no dia 14 de abril, às 13h30, os brasileiros atacaram Montese, fazendo sua estréia na traiçoeira guerra urbana – bem mais complicada que os combates na montanha, por literalmente esconder um problema em cada esquina.
Marcas indeléveis - O avanço-mestre dos soldados nacionais era observado de camarote pelos comandantes conterrâneos em Sassomolare, que fornecia perfeita visão de Montese. Estes presenciaram uma evolução nota dez dos pracinhas, que penetraram na defesa inimiga e lancetaram os tedescos com ímpeto descomunal. Um dia depois da invasão, os soldados de Adolf Hitler começavam a ser varridos de Montese. A tomada da cidade concretizou-se no dia 16, com o apoio do 6º Regimento de Infantaria.
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Ao final dos combates, Montese estava praticamente arrasada: das 1.121 casas do burgo, nada menos que 833 foram destruídas. A pugna também ceifou 189 munícipes. A Força Expedicionária Brasileira levou a cabo uma campanha irrepreensível quanto à conquista do objetivo, mas as marcas trazidas do front seriam indeléveis: cerca de 450 baixas, entre mortos e feridos, no que pode ser considerada a mais sangrenta batalha envolvendo forças brasílias desde a Guerra do Paraguai. Foi a última grande peleja dos pracinhas no Velho Mundo – e, ao menos em Montese, não seria esquecida. Em homenagem aos “generosos libertadores” – como os expedicionários ficariam conhecidos na região -, uma das praças da cidade ganhou o epíteto de Piazza Brasile. Giusto, giustissimo.
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